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Pela 1ª vez desde 2006, os dois ‘Retratos de Adele’, de Klimt, estão juntos na Neue Galerie, em Nova York

Assim como inúmeras boas histórias da vida real, uma das batalhas judiciais mais famosas do mundo da arte tornou-se um elogiado filme hollywoodiano: A Dama Dourada (Woman in Gold, 2015) – que tivemos a felicidade de ver sendo gravado em Viena, na Áustria, e você pode conferir aqui. Estrelado pela vencedora do Oscar Helen Mirren, ele mostra como Maria Altmann, uma austríaca que fugiu dos horrores da Segunda Guerra Mundial e passou quase uma vida inteira vendendo casaquinhos em Los Angeles, recuperou o quadro O Retrato de Adele I — pintado por Gustav Klimt para sua tia e roubado pelos nazistas — após um longo processo contra o governo de seu país.

Helen Mirren, Ryan Reynolds e Daniel Brühl gravam cena do filme A Dama Dourada em Viena, na Áustria

Com mais de 80 anos de idade e  a ajuda de apenas um advogado sem muita experiência, a Sra. Altmann chegou até a Suprema Corte dos Estados Unidos para obter de volta, em 2006, cinco obras que haviam sido confiscadas de sua família em 1938. Entre eles, o que se tornou na época, o quadro mais caro da história.

O Retrato de Adele Bloch-Bauer I (1907), após ser retirado das paredes da Galeria Belvedere, em Viena, foi vendido por Altmann para o empresário Ronald Lauder por US$ 135 milhões — um recorde, visto que a obra mais cara já arrematada em leilão era o quadro Homem Com Cachimbo, de Pablo Picasso, vendido por US$ 104 milhões em 2004.

Para concordar com a venda, Maria Altmann fez apenas uma condição ao colecionador: o quadro deveria estar sempre exposto ao público. E nesses dez anos que se passaram desde a aquisição, tal pedido tem sido atendido à risca por Lauder. O Retrato de Adele I, maior exemplo do “estilo de ouro” de Klimt, encontra-se na Neue Galerie, em Nova York, propriedade do empresário, e pode ser contemplado por qualquer turista que esteja por esta ilustre cidade — inclusive na primeira sexta-feira de cada mês,  é de graça.

O Retrato de Adele Bloch-Bauer I, de Gustav Klimt, que chegou a ser o quadro mais caro do mundo

Lauder reuniu na Neue Galerie a maior coleção de Klimt fora da Áustria. E, só por isso, é ponto de parada obrigatório para qualquer amante de arte. Mas mesmo para aqueles que já tiveram o prazer de ver uma das maiores obras de todos os tempos, a galeria, pela primeira vez em dez anos, oferece ao visitante algo único.

Como o próprio nome original do quadro diz, a obra que ficou conhecida como A Dama Dourada é apenas o primeiro de dois retratos de Adele Bloch-Bauer pintados por Klimt. Aliás, ela, mulher de um importante empresário do ramo de açúcar e muito amiga de Klimt, foi a única modelo que o pintor austríaco retratou duas vezes: a primeira em 1907 e a segunda, quando as cores já haviam substituído o seu estilo de ouro, em 1912.

O Retrato de Adele Bloch-Bauer II, assim como A Dama Dourada, ficava na residência da família até ser levado pelos nazistas. E apesar de não ser tão famoso quanto o retrato I, também foi retirado das paredes de Viena por decisão judicial em 2006. Os quadros, até agora, nunca mais estiveram juntos.

O Retrato de Adele Bloch-Bauer II, de Gustav Klimt, que fica exposto no MoMa, mas até setembro deste ano ficará na Neue Galerie

Na época ele foi vendido por cerca de US$ 88 milhões — a quarta peça de arte mais cara — para um colecionador anônimo. Depois, foi emprestado num contrato de longo prazo ao Museum of Modern Art (MoMA), também em Nova York, em 2008. E depois de serem vizinhos, em setembro do ano passado, primeira vez em uma década, Os Retratos de Adele Bloch-Bauer I e II foram reunidos em um mesmo ambiente: na sala principal da Neue Galerie.

O reencontro virou a mostra Klimt and the Women of Vienna’s Golden Age, 1900-1918, que ficaria em cartaz na galeria até 16 de janeiro de 2017. E nós conferimos este encontro marcante . Só que a repercussão e a iniciativa deram tão certo, que em vez do retrato II voltar para o MoMa, a Neue Galerie abriu uma nova exposição em comemoração aos 15 anos da galeria, intitulada Austrian Masterworks from the Neue Galerie New York. E, com ela, conseguiu manter os retratos de Adele juntos por mais tempo: até 25 de setembro deste ano.

Uma novidade na cidade que nunca dorme, que prova a enorme versatilidade de Nova York. Um dos poucos lugares do mundo onde, não importa quantas vezes seja visitado, sempre há algo novo — e interessante — para fazer. Uma dica: a galeria oferece, gratuitamente, de sexta a segunda, um tour às 15h30. Uma funcionária reúne os visitantes na sala principal no segundo andar, e faz um passeio por toda a coleção de Klimt, com detalhes das obras e suas influências. Dura cerca de uma hora.

Entorno

A Neue Galerie não poderia estar mais bem localizada: na famosa 5ª Avenida de Manhattan, na esquina com a 86 em frente ao Central Park. Por isso, nada melhor do que um passeio pelo parque mais famoso de Nova York após apreciar os quadros de Klimt. Basta atravessar a via para sair exatamente na altura do Grande Lago do local, que tem o curioso nome Jacqueline Kennedy Onassis Reservoir (em homenagem à ex-primeira dama dos Estados Unidos, em agradecimento ao seu compromisso e dedicação à cidade).

Grande lago do Central Park, em Nova York, local preferido dos moradores da Big Apple para os exercícios diários

O lago, além da estonteante beleza e vista, continua sendo o local preferido para as corridas diárias dos moradores e também de turistas que não dispensam uma atividade física. Tanto que o movimento de atletas no percurso de 2,4km é constante, e é possível, inclusive, dar de cara com famosos que morem pelas redondezas. No dia que estivemos no parque, Mark Rylance, o vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante em 2016 pelo filme Ponte dos Espiões, exercitava-se por lá.

Não quer correr? Tire então quantas fotos quiser e sente-se no gramado para apreciar este lugar único. É um respiro necessário para encarar a agitação que só as noites de Nova York podem oferecer.

 

Leia mais sobre o dia que acompanhamos as gravações do filme A Dama Dourada, em Viena

 

Autor: Fábio Trindade

Fábio Trindade

Jornalista e viajante profissional @fatrindade

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