Entre os muitos superlativos do arquipélago de Fernando de Noronha há o fato de o local ser considerado o melhor ponto de mergulho do Brasil e um dos melhores do mundo. As águas são quentes, em média 27ºC, e praticamente livres de sedimentos, o que permite ampla visibilidade acima dos 25 metros de profundidade. Tartarugas, tubarões, polvos, arraias, lagostas, golfinhos e muitas espécies de peixes são frequentes, muitos deles vivendo nos naufrágios que são verdadeiros hotéis de luxo para a vida marinha. Motivos que fazem do mergulho com cilindro uma atividade indicada tanto para os experientes quanto para os que sequer sabem nadar.
As belezas naturais visíveis em terra firme na ilha são proporcionais às encontradas nas águas cristalinas. Tanto que a maioria dos passeios envolve as profundezas do oceano. Para os mergulhadores credenciados (pessoas com experiência, que fizeram cursos e têm certificado), há dezenas de pontos de mergulho, como o rochedo Cabeça da Sapata e o naufrágio da Corveta Ipiranga. Porém, mesmo os que nunca chegaram perto dos equipamentos podem ver a vida marinha de perto graças ao batismo, mergulho de cilindro para os aventureiros sem certificado. Ele dura 30 minutos, a profundidade máxima é de 12 metros, há sempre um instrutor e o preço varia de R$ 400 a R$ 600, dependendo da temporada. Credenciados são mais baratos, conseguindo valores que começam em R$ 150.
Três empresas (Atlantis Divers, Águas Claras e Noronha Divers) fazem o embarcado e há três pontos em alto mar para o batismo, todos com diversificada vida marinha. O lugar é escolhido no dia, conforme as condições climáticas e de visibilidade. A gente inaugurou a vida de mergulhos no ponto chamado Cagarras, com a Águas Claras. Há diversos horários ao longo do dia e a empresa busca na pousada com um caminhão ou van.
O dia estar nublado ou mesmo chovendo não impede necessariamente o mergulho, já que as condições analisadas são as do mar. Ou seja, se ele estiver muito revolto, não há visibilidade (mas dificilmente se cancela um mergulho embarcado). Todas as orientações, mesmo sendo a primeira vez, são passadas no barco a caminho do local. Mas tudo é muito simples – é mais fácil, por exemplo, respirar com o cilindro do que com um snorkel, pois no respirador não entra água – e basicamente só é preciso aprender sinais para dizer, embaixo d’água, coisas como “descer”, “subir”, “problema” e “tubarão”.
Sim, esta última palavra também é ensinada porque, sim, eles estão por lá. Mas, calma. Os mergulhadores anseiam por ver esses animais pelo caminho porque estão entre os pontos altos do passeio, tanto quanto as tartarugas. E ambos, garantem os profissionais, não são ameaças aos humanos. Basta não tocar no tubarão, encurralá-lo ou ameaçá-lo com qualquer objeto, como um pau de selfie (não permitido no mergulho), que o bicho não fará nada. Apenas nadará seguindo seu caminho.
A experiência e o mergulho no Porto
Realmente tudo é muito simples e você não precisa fazer praticamente nada, no máximo equalizar os ouvidos (segurar o nariz e empurrar o ar para fora) e fazer os sinais. O instrutor te leva igual um saco de batatas, como passamos a dizer após ver as fotos. Em Cagarras, as principais “atrações” no fundo do mar foram duas lagostas gigantes (além de centenas de peixes). Foi muito bacana. Só que tudo iria ficar ainda melhor, pois no Porto de Santo Antônio os tubarões decidiram dar as caras.
Isso, por mais que a palavra porto lembre manchas de óleo, sujeira e inúmeros barcos, em Noronha o local é um dos pontos mais agradáveis e ricos em vida. E é possível fazer o batismo por lá também, com outras duas empresas, a Sea Paradise (a que escolhemos) e a Mar de Noronha. A experiência é completamente diferente, já que, para começar, o visitante caminha pela praia com os equipamentos e vai afundando aos poucos. O período de adaptação é muito maior e o tempo de mergulho, idem: uma hora. O preço também é mais em conta: R$ 250 por pessoa.
Aqui porém, um instrutor é responsável por duas pessoas, o que deixa o mergulhador mais livre – e te exige mais também. Por isso, ter feito primeiro o mergulho embarcado contribuiu consideravelmente para a segunda experiência, tanto na respiração quanto na movimentação. Você faz praticamente tudo sozinho, aprende a descer, subir, a controlar melhor o ar (não o cilindro), porque é a sua respiração que te faz subir e descer, entre outras coisas. Ninguém te carrega, você apenas segue o instrutor. Se estiver com dificuldade, ele volta para te buscar, tudo muito tranquilo também (algumas vezes você se pega subindo sozinho, aí ele vai lá te resgatar).
E há outra grande diferença entre o batismo no Porto e o embarcado. No Porto, o maior atrativo é visitar o Maria Stathatos, navio grego que naufragou na região em 1937, devido a um incêndio, e que se tornou um oásis para os moradores marinhos. Você contorna toda a carcaça no fundo do mar, passa até por dentro de uma partes, vê mais vida marinha (no nosso caso, pelo menos) e tem uma das melhores experiências em Noronha.
Lembrando que a praia do Porto é deliciosa, limpíssima, e passar uma tarde lá também vale a pena. Há arraias circulando a uma profundidade que cobre no máximo o joelho e, mais ao fundo, tartarugas e tubarões dividem espaço com gigantescos cardumes que dançam à nossa volta sem pedir licença – e nem precisa fazer mergulho para ver tudo isso.
Sobre fotos, nos dois passeios elas custam muito caro. Podem sair de R$ 50 uma única foto, um CD com 10 por R$ 250, até o valor que você estiver disposto a desembolsar! Quanto mais fotos, mais o valor individual cai. Para filmagens, praticamente dobre isso. E o mergulhador responsável pelo vídeo só vai com você se contratar antes. No caso das fotos no embarcado, o fotógrafo registra todo mundo e depois você vai na sede escolher (se quiser). No Porto, o fotógrafo também só registra se contratar antes. GoPro são permitidas nos dois mergulhos, desde que não estejam em hastes – e saem boas fotos também. O instrutor até fotografa você ou mesmo te filma. É um barato.
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Autores: Fábio Trindade e Tiago Stachetti