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O dia que eu vi um gato amarelo no corredor do avião a 11 mil metros de altitude

Já passei por diversos contratempos inusitados (para não dizer bizarros) em voos – como o freio de um avião parar de funcionar (e o piloto, após o conserto, falar: “provavelmente vai funcionar agora”) e outro voo que estava sem um tal dum livro que não pode de jeito nenhum decolar sem e ninguém sabia onde o bendito estava. Porém, nada se compara ao que aconteceu no retorno para casa no dia 27/12/2015, de Nova York para São Paulo, pela United Airlines. Vamos lá!

Para começar, o avião já na pista pronto para subir, precisou dar meia volta porque “dois compartimentos foram alocados errados e precisavam ser arrumados”, obrigando a aeronave a voltar para o portão de embarque e esperar DUAS HORAS até ser liberada para decolar novamente. Finalmente partimos,  sem ter a menor ideia do que estava por vir.

Infelizmente, não tenho foto do momento em que o gato aparece – ou de qualquer outro desta aventura. Então aqui vai uma foto da Namastê (conhecida como Tetê), da nossa grande amiga Juliana Tillmann, pois eles são iguaizinhos.

Já no ar, pouco depois do jantar, euzinho, sentado no corredor enquanto Tiago contava carneiros na janela, estava pensando na vida com o olhar perdido até que, de repente, vejo que algo no corredor está me olhando, dois bancos para frente. Tento fixar o olhar e, quando consigo, vejo que um gato enorme e amarelo  está no corredor, sozinho, olhando para mim.

Dou aquela balançada na cabeça e olho de novo, já com o pensamento pulsando na mente e achando que estava ficando louco, mas o gato está ali, olha mais uma vez, e corre para debaixo dos bancos do meio. “Meu Deus, eu vi um gato? Será que pirei?” E começo a olhar para os lados à espera de algum sinal. Dois japoneses sentados nos bancos do meio, do meu lado, também estão alvoroçados falando entre si e apontando para o corredor. “Bom, então não estou louco. Mas e agora?”.

Sem pensar, levanto e vou até o fundo da aeronave para encontrar um comissário e digo para ele: “Tem um gato correndo pelo avião.” “O quê?” exalta ele, atônito. “Um gato, amarelo, correndo pelo avião.” Ele vira para um outro comissário, meio passado, e diz: “We have a situation”.

Onde o senhor está sentado? Mostro e digo para que lado o gato saiu correndo. De repente, começo a ver uma movimentação estranha pelos corredores, em diversas partes da aeronave. Cabeças se erguendo, conversas altas e caras de espanto. Sim, o gato estava descontrolado correndo POR TODA A AERONAVE.

Um burburinho toma conta do avião até que uma mulher, com a cara mais calma do mundo, numa tranquilidade assustadora, dois bancos à frente do meu, vira para trás e pergunta: Por acaso meu gato está por aí? O casal da frente, incrédulo e provavelmente também com a cabeça em outro lugar, diz: “gato?” E ela:” Sim, acho que meu gatinho abriu o zíper e não está aqui. Será que ele não está no banco de vocês?” Questiona, como se estivesse perguntando se um brinco não tinha caído ali.

Toda vez que visito a Juliana e vejo a Tetê, eu lembro do gato do avião pois eles são idênticos. Então imagine essa coisinha aí correndo por todos os lados para entender um pouco como foi aquela noite

Eu digo: “Moça do céu, os comissários estão enlouquecidos atrás do seu gato porque ele está correndo pra todo lado”. No mesmo momento que digo isso, de repente, vem uma voz no som do avião: “Quem tiver um gato no avião, por favor se apresente na frente da aeronave.” Obviamente, aquilo alvoroçou o resto dos passageiros que ainda não tinham notado o bicho.

O gato, nervoso, foi parar no colo de uma senhora, que segurou o bichano e tentou acalmá-lo e o “miauuuuu, miauuuuu” ecoava pelo avião. Porém, as coisas não terminaram aí. A sacola do gato realmente arrebentou e simplesmente não tinha onde botar o bicho pelas próximas 9h de voo. E agora?

O gato, estressado, não parou no colo da dona e começou a soltar as garras. Restou à mulher correr para o banheiro e se trancar lá, por quase uma hora. “Miauuuuu”. Só que o cara que estava na saída de emergência, do nada, levantou e disse: gato? E saiu correndo pro fundo do avião. Sim, ele tem medo, e não voltava pro lugar de jeito nenhum.

A movimentação não parou e os comissários corriam de um lado para outro, sempre parando no banheiro para checar a situação. Aí, tiveram a brilhante ideia de terminar o serviço de bordo, que contava com sorvete de sobremesa, e usar a sacola térmica dos potes como caixa para o gato. Fura daqui, rasga de lá…e tentam enfiar o bichinho na sacola. Foram mais alguns bons momentos de “miauuuuuuuuuuu” agudo e alto… até o gato sossegar.

Dormi. Acordei para o café… e o gato, claro, “miauuuuuuuuuu” sem parar.

Fim!

 

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Autor: Fábio Trindade

Fábio Trindade

Jornalista e viajante profissional @fatrindade

6 thoughts on “O dia que eu vi um gato amarelo no corredor do avião a 11 mil metros de altitude

  • Não imagino o estresse dos passageiros que não gostam de animais. Mas o bom das viagens, são as histórias. Essa dá pra contar para os netos.

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