Pode-se dizer que encontrar edifícios barrocos, suntuosos palácios e igrejas extravagantes em uma mesma cidade não é uma missão tão difícil na Europa. Há várias delas, em diferentes países do velho continente, com essas características. Mas quando o assunto é a Rússia, mais especificamente São Petersburgo, acredite, a questão toma outras proporções. Claro que os destaques são os conhecidos Museu Hermitage, um dos melhores do mundo, a Igreja do Sangue Derramado e o Palácio de Catarina, mas o projeto desenhado por Pedro, o Grande, que transformou São Petersburgo em uma das primeiras cidades planejadas da história, é tão bem elaborado e elegante, circundado por belos canais, que o termo “Cidade dos Sonhos” cabe muito bem aqui.
Enquanto Paris, Londres e Roma contam com uma gigantesca publicidade cultural espontânea, fica claro logo no primeiro olhar que, apesar de famosa, a antiga capital russa não recebe o prestígio turístico que merece. Apenas ao pisar nela percebe-se realmente a preciosidade ainda não descoberta por tantos viajantes – a exceção fica por conta dos orientais, estes sim em peso por lá, ainda mais do que nos outros países da Europa.
Provavelmente por isso é comum ver o turista brasileiro, mesmo aquele que se aventura bem longe de casa, pensar em São Petersburgo como um lugar que merece um bate-volta ou somente passar uma noite, para depois seguir caminho pela Escandinávia ou mesmo Moscou. Não faça isso. Há tantos atrativos na cidade que, assim como em Paris, Roma e Londres, quanto mais tempo ficar por lá, mais vai se encantar e querer continuar.
Sol da meia-noite
Primeiro que, no verão, a melhor época do ano para visitar a cidade, nem noite há em São Petersburgo. O período conhecido como “Noites Brancas”, entre junho e julho, como são chamados os dias em que o sol se põe na Rússia pouco abaixo da linha do horizonte, deixando a madrugada com cara de entardecer, é um delicioso banquete que pede ao turista para desfrutá-lo sem hora para ir embora. É curiosíssimo não ter noite, tanto que o termo “sol da meia-noite” também é comum para falar das “Noites Brancas”. Sem contar que diversos programas culturais são planejados por toda cidade nesta época, o que deixa tudo muito festivo. Portanto, programe-se para uma viagem inesquecível quase do outro lado do mundo.
As temperaturas em São Petersburgo no verão, chegam a 30 graus, mas é melhor não contar com isso. Além de o tempo ser bastante instável, podendo chover quando menos se espera, venta muito na cidade. Então, apesar do brilhante sol lá no alto, o ar gelado é constante e uma blusa – ou mesmo casacos pesados dependendo do dia – cai muito bem. Nas manhãs que passamos por lá (vale lembrar que nosso cruzeiro fez pernoite na Rússia), era impossível sair sem um casaco pesado, e ele também era usado quando o sol ficava mais fraco, no horário que deveria ser noite. No resto do dia, com sol, tudo fica muito agradável e dá até para se sentir no verão (de leve).
Cadê a cordialidade?
Vamos às ressalvas, já que algo muito importante precisa ser levado em conta ao decidir ir à Rússia: Embora São Petersburgo tenha ar europeu, o clima da cidade não é nada parecido com o dos países vizinhos, como Finlândia e Estônia. Apesar de o socialismo ter sido abandonado há mais de duas décadas, há rastros deste passado por todos os lados, principalmente no trato da população com os visitantes – e entre eles mesmos.
Isso quer dizer, infelizmente: não espere bom atendimento, cordialidade e largos – ou mesmo tímidos – sorrisos pelas ruas como na Suécia, pois essas “regalias” praticamente não existem por lá. E se tratar bem o turista não faz parte dos planos da Rússia por enquanto (algo que deve mudar em breve pois o país vai sediar a Copa do Mundo no ano que vem, ou pelo menos esperamos que mude), saiba que aquele ditado de que basta falar inglês para ir a qualquer lugar do mundo não funciona em São Petersburgo.
Poucos, pouquíssimos são os russos que se comunicam em outro idioma que não o materno, inclusive em importantes pontos turístico da cidade, como o próprio museu Hermitage. Até mesmo no comércio turístico, aquele que vende lembrancinhas e bugigangas. Isso mesmo. Para saber os valores, por exemplo, não adianta perguntar, porque eles vão apenas mostrar a etiqueta colada no produto. Caso não tenha, alguns sabem dizer os números, mas nada elaborado. Na verdade, fica claro que apenas os jovens – e olhe lá – fogem um pouco desse panorama.
Curiosidade
Quando moramos pela segunda vez em Nova York, ficamos muito amigos de um russo, e quando estivemos em São Petersburgo (ele mora na Sibéria, então não conseguimos nos encontrar), contamos a ele este sentimento que tivemos. A resposta dele foi: “pense que você estava na cidade mais rica culturalmente. São Petersburgo é a capital cultural da Rússia. Ou seja, se você sentiu isso lá, imagine no resto do país. Boa sorte e me desculpe pelos transtornos do meu país”. Vlad, o nosso amigo, que inclusive esteve no Brasil em maio/17 e pudemos nos reencontrar, é uma exceção. Estudamos com outros russos, e eles eram bem parecidos com aqueles com que nos deparamos em São Petersburgo.
Calma, ninguém passa fome, dorme debaixo da ponte ou vai embora do país sem uma lembrancinha. Mas o idioma é uma dificuldade real e a velha e boa mímica entra em ação o tempo todo. Por consequência, não saia do hotel sem um mapa ou guia, porque muitas placas de identificação pela cidade também estão apenas em russo. E como o povo não é prestativo, chega a ser mais difícil conseguir as coisas por lá do que no Japão, por exemplo. O motivo: os japoneses são o povo mais cordial, educado e prestativo que conhecemos, de um jeito muito peculiar. Os únicos que se assemelham com eles são os canadenses, seres evoluídos muito respeitosos que mostram que a sociedade tem salvação.
Voltando ao tratamento dos russos com nós, turistas. Esses fatores estragam a viagem? De maneira alguma. Abordamos o assunto apenas para você não ser pego de surpresa lá. Até porque, como dito, São Petersburgo nasceu como uma cidade planejada há mais de três séculos e tudo funciona muito bem, sendo extremamente fácil a locomoção por todos os lados – inclusive de metrô. Ou seja, programe-se e curta este belo e inesquecível passeio.
Leia mais sobre a Rússia:
Exuberância e ostentação definem o Hermitage, o museu da Rússia que supera até as suas obras de arte
Nada melhor do que ver um legítimo balé russo na… Rússia
Tudo sobre Peterhof, o palácio de Pedro, o Grande, conhecido como o Versailles russo
Autores: Fábio Trindade e Tiago Stachetti
Muito obgada pelas ótimas informaçôes e solidariedade para com os próximos viajantes à Rússia. Valeu.