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A ASSUSTADORA CIDADE DE POMPEIA E AS VÍTIMAS DO VULCÃO VESÚVIO | ITÁLIA | Viaje Por Conta | Ep. 15

Os sentimentos são conflitantes. E tudo bem. É difícil mesmo entender, ou até aceitar, que onde hoje há uma das histórias mais ricas da humanidade, no passado ela se construiu por uma tragédia de proporções avassaladoras. Tristeza, dor e sofrimento marcaram o ano de 79 d.C. em Pompeia, no sul da Itália, uma cidade que décadas antes vivia o apogeu, mas que foi literalmente destruída do dia para a noite pela erupção do implacável vulcão Vesúvio. O que restou, e o impacto que um passeio pela região causa no visitante, podem ser conferidos no vídeo acima.

Avisos foram dados anos antes, com uma série de pequenos tremores e até um grande terremoto em 62 d.C. que destruiu parte da cidade, tudo causado pelas lavas que despertavam no interior do monte. Mas em vez de procurarem um lugar mais seguro para morar, os 20 mil habitantes de Pompeia ainda reerguiam a cidade conhecida pelo vinho, pelo azeite e pela libertinagem no fatídico 24 de agosto de 79.

Pompeia com o vulcão Vesúvio ao fundo. Este é o Fórum, a principal praça da cidade, uma enorme área cercada por colunas onde estavam os principais prédios administrativos, religiosos e políticos de Pompeia. Entre eles, o Templo de Apollo e a Basílica. Basicamente, o coração da região, onde todas as decisões sobre o funcionamento da cidade eram tomadas.

Parte desses moradores, 20 séculos depois do desastre, ainda é responsável pela alma quase mística de Pompeia – um dos sítios arqueológicos mais interessantes e preservados do mundo. Os corpos petrificados daqueles que não conseguiram fugir quando a densa nuvem preta de 15 quilômetros de altura se ergueu sobre o Vesúvio hoje podem ser vistos pelos milhares de turistas que visitam o local todos os dias. Isso graças a uma engenhosa técnica com gesso – que será explicada logo mais – responsável por preservar a memória de Pompeia e também por deixar o clima da visita às vezes macabro ou até assustador. O que, em momento algum, tira o encanto do passeio.

Um dos corpos modelados pelas cinzas que estão expostos em Pompeia. A posição de proteção, com as mãos cobrindo o rosto, mostra o desespero das pessoas. As mortes aconteceram em poucos segundos, por causa dos gases tóxicos e das ondas de calor, que chegaram a 600ºC, lançados pelo Vesúvio. Cerca de mil corpos foram reconstruídos em Pompeia.

COMO CHEGAR

A visita é obrigatória para os amantes de história, pois o sítio consegue se sobressair neste quesito até para os padrões da Itália, um dos berços da civilização. E o acesso é muito fácil. A melhor forma é chegar por Nápoles, cidade estratégica no sul do país que serve como ponto de partida para Capri, para a Costa Amalfitana e, claro, para Pompeia. São apenas 40 minutos de trem, com tickets a € 5.60 para duas pessoas. Veja os detalhes no vlog.

Mas caso a ideia não seja ficar em Nápoles, é comum (e possível) fazer um bate-volta a partir de Roma. A única diferença é o tempo e o valor do ticket. Acrescente mais 1h10 no trajeto entre Roma (Termini) e Nápoles (Napoli Centrale) e os bilhetes começam em € 12.30 por pessoa para este trecho. Uma dica: não façam como nós – que descemos na estação Pompei – optem pela estação Pompei Scavi.

Essa parada fica ao lado de uma entrada do sítio arqueológico, enquanto a outra exige táxi ou uma bela caminhada – no sol forte, no nosso caso, pois fomos no auge do verão. E quem já visitou a Itália nos meses mais quentes sabe que o calor não é fácil até mesmo para brasileiros. Para entrar em Pompeia, o ingresso adulto custa € 13 e o primeiro domingo de cada mês é grátis para todos.

O QUE ACONTECEU?

Ao contrário do que muitos imaginam, Pompeia não foi soterrada por lava, mas por poeira e sedimentos, e por isso a cidade foi basicamente congelada no tempo. As pessoas e animais também não morreram exclusivamente pelo calor ou pelo fogo, mas sufocados pelos gases tóxicos emitidos pela erupção. E as toneladas de cinzas que cobriram Pompeia, além de preservarem paredes, casas, ruas, esculturas, obras de arte, também aderiram à forma e às roupas das pessoas que ali estavam – quase todas em posições de proteção.

Corpo de homem encontrado em Pompeia com as mãos no rosto, tentando se proteger. Cientistas afirmam que a posição das pessoas mostra que tudo aconteceu muito rápido. Trata-se de uma reação ocorrida na hora da morte chamada espasmo cadavérico, que nada mais é que um enrijecimento muscular.

Foram cerca de 1.600 anos assim, sem qualquer interferência do homem ou dos efeitos do clima. E a descoberta aconteceu por acaso, por um agricultor que, ao cavar no local, esbarrou em um muro da cidade. Isso era fim do século 18 e, desde os dois séculos seguintes até os dias de hoje, Pompeia vem sendo escavada e redescoberta. Casas, prédios públicos, templos, comércios, fontes de água, anfiteatros, saunas utilizadas para lazer da população, aquedutos (o sistema de condução de água construído na época), estátuas, enfim… toda a estrutura e as belezas de uma verdadeira cidade romana foram sendo expostas ao mundo.

Em alguns pontos das escavações, entretanto, havia vácuos sob as camadas de cinzas. Quem os identificou pela primeira vez foi Giuseppe Fiorelli, que assumiu o comando de Pompeia em 1863. Logo ele percebeu que esses espaços eram os deixados pelos corpos em decomposição. Como as cinzas aderiram às roupas e à pele das pessoas, elas criaram uma casca, quase um casulo. O arqueólogo então injetou gesso nesses vácuos para reconstituir a forma dos corpos.

Como resultado, podemos ver, claramente, com muita perfeição, as expressões de terror e pânico das vítimas. Há homens, mulheres, crianças, animais, pessoas abraçadas… é possível identificar até quem estava amarrado no momento da morte. São imagens fortes que ajudam a entender o que se passou ali. E mesmo sabendo que o que preenche aquela casca não é mais um corpo, o exterior é o reflexo exato do que aquele ser vivo passou e como foi encontrado. E isso não é fácil de ver – mas é o que principalmente mantém a popularidade de Pompeia.

O TRABALHO CONTINUA

Boa parte de Pompeia permanece sob os sedimentos deixados pelo vulcão Vesúvio. As escavações continuam e, atualmente, o grande desafio é conseguir preservar o que é descoberto. Tanto que hoje em dia o gesso tem sido substituído por resina. Assim, os ossos não são danificados, os corpos são mais bem preservados e podem ser analisados mais profundamente.

Aqui é possível ver um pouco como Pompeia ficou durante todos estes anos. Apesar das paredes já estarem expostas, ainda há muitos sedimentos na área, principalmente no chão, para serem retirados. Montes como esses, que misturam detritos, areia e cinzas, cobriam toda a cidade, por metros e metros de altura. Um trabalho árduo tanto para a retirada e limpeza dos espaços quando para manter o que está por baixo intacto.

Hoje, milhares de pessoas caminham pelas ruas e entram em casas tão perfeitas que chega a ser difícil acreditar que ficaram soterradas por quase dois mil anos. Pinturas avermelhadas decoram as paredes das antigas residências dos mais afortunados, e há até símbolos e escritos de campanhas políticas em pilares nas ruas.

O  MUSEU

O grande desafio agora é que, depois de desenterradas, essas relíquias passam a sofrer com a chuva, sol, vento e, claro, a ação do homem. Por isso, para preservar essa história dolorosa e impressionante, as maiores relíquias de Pompeia são levadas para o Museu Arqueológico Nacional de Nápoles, onde são expostas em ambientes mais adequados. Um patrimônio inestimável que merece uma visita tanto quanto a própria cidade onde ele foi encontrado. E é por isso que ter tempo também em Nápoles é tão importante. Afinal, só mesmo conhecendo a cidade que um dia foi soterrada e, depois, se aprofundando neste enredo pelas salas do museu é possível ter uma completa incursão na civilização destruída pelo vulcão.

A visita a Pompeia pode ser feita em uma manhã. A área é enorme, exige disposição e sapatos confortáveis. E é primordial ter algum guia com você para entender os significados de onde se passa. Pode ser um guia impresso, no celular, utilizar o audioguia do próprio sítio arqueológico (há em português, então é uma boa opção) ou mesmo contratar um particular. Como mostramos no vídeo, há muitos guias credenciados que ficam nas entradas em busca de grupos. Essa foi a nossa escolha e valeu cada minuto.

No período da tarde, você pode seguir para o museu. Te mostramos a visita neste segundo vídeo. O que mais impressona são as pinturas, impecáveis. Paredes inteiras eram decoradas com obras de arte – e muitas delas estão expostas em Nápoles. Diante delas, é impossível não pensar no quanto a sociedade ali era evoluída. Peças que foram escondidas do mundo há dois mil anos, soterradas pela fúria da natureza. Imagine, então, há quanto tempo elas estavam ali expostas antes desse desastre? Um talento tão antigo que chega a ser difícil mensurar.

Sem contar que há um bônus imperdível na passagem pela cidade: Nápoles pode parecer um lugar caótico (e realmente é), mas também foi o responsável pela pizza que o mundo conhece hoje. Ou seja, se você gosta dessa iguaria típica da Itália, não há lugar melhor para se deliciar com ela. Divirta-se.

 

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Autores: Fábio Trindade e Tiago Stachetti

Fábio Trindade

Jornalista e viajante profissional @fatrindade

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